Masters: entenda o caso do drope ilegal de Tiger Woods

14/04/2013


Todos reconheceram que ele errou. A questão é se ele deveria ser desclassificado ou não


Tiger dropa propositalmente em local errado e mesmo sem saber disso deveria ter sido desclassificado
Tiger dropa propositalmente em local errado e mesmo sem saber disso deveria ter sido desclassificado

por: Ricardo Fonseca

Tiger Woods deu um tiro quase perfeito com sua terceira tacada no buraco 15, de par 5, na sexta-feira, no segundo dia do Masters. A bola bateu na base da haste da bandeira e foi jogada de volta, para dentro da água que cerca e entrada do green. Tiger olhou a área de drop (Regra Local) e não gostou da grama empapada. Dropar na linha formada pela bandeira e pelo ponto em que a bola cruzou o azar pela última vez, ia deixá-lo espremido contra a arquibancada, também em grama ruim. Tiger, então, usou a outra única opção que tinha num azar de água frontal (linha amarela): voltou ao ponto de origem e bateu outra bola, a quinta, que deixou dada para fazer um bom bogey 6.

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Nenhum problema até Tiger deixar o campo e dar duas entrevistas, uma para a ESPN, outra para os jornalistas que cobrem o Masters no local. Em ambas, Tiger explicou porque abandonou as duas primeiras opções de drope e optou por voltar ao ponto de origem. Conforme reza a Regra 26-1.a, que trata de Azares de Água, o jogador na opção escolhida por Tiger, deve “jogar uma bola de um ponto tão perto quanto possível do local em que a bola original foi jogada pela última vez”.

Confissão – Acontece que Tiger não fez isso, como admitiu nas entrevistas. “Eu dropei a bola duas jardas mais atrás para evitar que ela voltasse a bater contra a bandeira”, disse Tiger, confessando a infração à Regra, sem se dar conta do que tinha feito. Mal amanheceu na Europa e a BBC de Londres levantou a questão: se Tiger propositadamente dropou duas jardas atrás do ponto de origem – estamos falando de quase dois metros e não de um palmo – fica claro que ele nunca tentou dropar “tão perto quanto possível do local em que a bola original”, infração à Regra punida com duas tacadas de penalidade.

Mas Tiger não colou um “8” em seu cartão. Colocou um “6”, assinou e entregou. Um resultado menor do que o real, o que pela Regra 6-6.d só tem um resultado possível: a desclassificação. “Se em qualquer buraco o competidor apresentar um escore inferior ao efetivamente feito, ele será desclassificado”. Poucas horas depois da Europa alertar para o erro, a imprensa americana levantou a questão de desclassificação e iniciou-se uma tempestade de mensagens nas redes sociais sobre o assunto.

Tiger contou mais tarde que não soube de nada até receber uma mensagem de texto na manhã de sábado, pedindo para ele contar a Comissão de Regras do Masters. Ouvido, Tiger foi informado pelos árbitros que seu drope foi irregular e que ele teria duas tacadas de penalidade. Mas segundo todos os envolvidos, não se falou em desclassificação.

Críticas – A notícia do que seria um favorecimento a Tiger caiu como uma bomba. Imediatamente jogadores do PGA Tour, Tour Europeu, LPGA Tour, jornalista especializados e comentaristas do porte de Nick Faldo, campeão de seis majors, inundaram as redes sociais com criticas pesadas à decisão do Masters, muitas conclamando Tiger a se auto-desclassificar em nome da integridade do jogo de golfe.

Passadas quase duas horas desse turbilhão de mensagens – e não antes -, o Masters divulgou uma nota oficial explicando sua decisão. Explicaram que o caso havia sido relatado por mensagem de texto pelo amigo de um árbitro que notou a infração vendo o jogo na TV, na própria sexta-feira, antes de Tiger terminar sua volta, e que o caso foi examinado e desconsiderado.

Só depois é que o Comitê soube da entrevista de Tiger e, na manhã seguinte, decidiu examinar o caso para valer, reviu as gravações da TV e convocou o jogador. Ante a inequívoca confissão de nem tentar cumprir o que dita a Regra, não teve alternativa senão puni-lo. Não fosse a entrevista, nem as duas tacadas seriam imputadas a Tiger.

Desclassificação – E a desclassificação? Bem, para não desclassificar Tiger, o Comitê alegou que usou a Regra 33-7, alterada em abril de 2011, que permite ao Comitê anular uma pena de desclassificação e aplicar as tacadas de penalidade posteriormente, “desde que o jogador não tivesse condições de saber que havia cometido a penalidade, antes de entregar o cartão”. Essa mudança nas Regras foi introduzida às pressas para resolver o problema crescente de jogadores desclassificados porque não viram a bola se mexer milímetros na hora da tacada, o que era denunciado depois por pessoas que assistiam ao jogo em TVs de alta definição. Foi logo após a desclassificação de Padraig Harrington, em Abu Dhabi, em 2011.

Mas é a opinião da imensa maioria dos especialistas independentes – não ligados ao Masters, que claramente a Regra 33-7 não se aplica ao caso de Tiger, ainda mais porque a Decisão 33-7/4-5 (longa, que reproduzo, abaixo, no final da reportagem, no original, em inglês, para os interessados), diz claramente que o Comitê não pode comutar uma desclassificação se as penalidades se deram “ou por ignorância da Regras ou se os fatos poderiam ser razoavelmente descobertos antes do jogar assinar e devolver seu cartão”. Ambos se aplicam ao caso de Tiger. Não era preciso uma TV de alta definição para ver o erro do drope de Tiger. Um rádio velho e um bom locutor bastaria.

“A Committee would not be justified under Rule 33-7 in waiving or modifying the disqualification penalty prescribed in Rule 6-6d if the competitor`s failure to include the penalty stroke(s) was a result of either ignorance of the Rules or of facts that the competitor could have reasonably discovered prior to signing and returning his score card.”

Incompetência – Mais uma vez, com base na Decisão da própria Regra 33 aventada pelo Comitê do Masters, a pena de Tiger só poderia ser a desclassificação. Mas o Comitê do Masters, ao alegar que examinou a questão “antes” de o jogador devolver o seu cartão e que decidiu nada falar a Tiger por acreditar que não havia infração às Regras, chamou para si a culpa – e a incompetência -, criando uma tecnicidade que salvou a pele, mas não a imagem, do número 1 do mundo.

Com esta explicação, ao invés de parar, as críticas nas redes sociais aumentaram de proporção e intensidade. Agora, além de criticar os árbitros, muitos passaram a exigir que Tiger se desclassificasse, como faria qualquer jogador íntegro que descobriu ter entregado um cartão com resultado menor do que o real. O que você, golfista, faria?

Explicações – Tiger não se abalou e foi jogar. Fred Ridley, presidente do Comitê de Regras do Masters, teve que dar uma concorrida entrevista para uma centena de jornalistas para explicar a decisão do Comitê de não desclassificar Tiger. Convenceu poucos. Não soube explicar de forma convincente por que Tiger não foi chamado na própria sexta-feira, se havia dúvida sobre seu drope. E nem por que o Masters é o único major onde não há um árbitro em cada grupo.

Chamar o jogador envolvido em uma questão de Regras, antes de ele entregar o cartão, é uma regra de ouro, uma regra não escrita, mas cumprida religiosamente pelos árbitros internacionais e mesmo nacionais. Tivessem feito isso, Tiger teria recebido as penalidades no dia e o assunto morrido, em vez de se tornar um novo “Tigergate”. O anterior, o das infidelidades de Tiger, eram problema pessoal dele; mas esse, uma questão envolvendo o próprio espírito das Regras de Golfe, é problema de toda a comunidade que joga pelo livro.

Integridade – O golfe é um jogo que se orgulha da própria integridade. As Regras são complicadas e cheias de Decisões. Mas os jogadores sempre se acusam e se impõe penalidades sem esperar que Comitê algum o faça. Comunicam ao Comitê sua falta tão logo se deem conta dela e, se já entregaram o cartão, se desclassificam. Não conhecer as Regras não pode ser e não é aceito como desculpa.

Tudo isso soa como se a tão falada bifurcação das Regras do Golfe não chegasse em função da proibição das tacadas com os putters ancorados no corpo e sim com uma nova bifurcação: uma regra para o Tiger, outra para os demais golfistas. O cheiro disso não é bom. A lição que fica, pior ainda.

Moral da história – “Regras são regras”, disse Tiger ao ser ouvido sobre a penalidade de uma tacada por jogo lento aplicada, na mesma sexta-feira de seu drope errado, ao chinês Tianlang Guan, de 14 anos. É verdade. Regras são regras, e devem valer tanto para um menino de 14 anos quanto para um campeão de 14 majors.


Leia a Decisão 33-7/4.5 na íntegra

Competitor Unaware of Penalty Returns Wrong Score; Whether Waiving or Modifying Disqualification Penalty Justified

Generally, the disqualification prescribed by Rule 6-6d must not be waived or modified.
However, if the Committee is satisfied that the competitor could not reasonably have known or discovered the facts resulting in his breach of the Rules, it would be justified under Rule 33-7 in waiving the disqualification penalty prescribed by Rule 6-6d. The penalty stroke(s) associated with the breach would, however, be applied to the hole where the breach occurred.
For example, in the following scenarios, the Committee would be justified in waiving the disqualification penalty:
A competitor makes a short chip from the greenside rough. At the time, he and his fellow-competitors have no reason to suspect that the competitor has double-hit his ball in breach of Rule 14-4. After the competitor has signed and returned his score card, a close-up, super-slow-motion video replay reveals that the competitor struck his ball twice during the course of the stroke. In these circumstances, it would be appropriate for the Committee to waive the disqualification penalty and apply the one-stroke penalty under Rule 14-4 to the competitor`s score at the hole in question.
After a competitor has signed and returned his score card, it becomes known, through the use of a high-definition video replay, that the competitor unknowingly touched a few grains of sand with his club at the top of his backswing on a wall of the bunker. The touching of the sand was so light that, at the time, it was reasonable for the competitor to have been unaware that he had breached Rule 13-4. It would be appropriate for the Committee to waive the disqualification penalty and apply the two-stroke penalty to the competitor`s score at the hole in question.
A competitor moves his ball on the putting green with his finger in the act of removing his ball-marker. The competitor sees the ball move slightly forward but is certain that it has returned to the original spot, and he plays the ball as it lies. After the competitor signs and returns his score card, video footage is brought to the attention of the Committee that reveals that the ball did not precisely return to its original spot. When questioned by the Committee, the competitor cites the fact that the position of the logo on the ball appeared to be in exactly the same position as it was when he replaced the ball and this was the reason for him believing that the ball returned to the original spot. As it was reasonable in these circumstances for the competitor to have no doubt that the ball had returned to the original spot, and because the competitor could not himself have reasonably discovered otherwise prior to signing and returning his score card, it would be appropriate for the Committee to waive the disqualification penalty. The two-stroke penalty under Rule 20-3a for playing from a wrong place would, however, be applied to the competitor`s score at the hole in question.
A Committee would not be justified under Rule 33-7 in waiving or modifying the disqualification penalty prescribed in Rule 6-6d if the competitor`s failure to include the penalty stroke(s) was a result of either ignorance of the Rules or of facts that the competitor could have reasonably discovered prior to signing and returning his score card.
For example, in the following scenarios, the Committee would not be justified in waiving or modifying the disqualification penalty:
As a competitor`s ball is in motion, he moves several loose impediments in the area in which the ball will likely come to rest. Unaware that this action is a breach of Rule 23-1, the competitor fails to include the two-stroke penalty in his score for the hole. As the competitor was aware of the facts that resulted in his breaching the Rules, he should be disqualified under Rule 6-6d for failing to include the two-stroke penalty under Rule 23-1.
A competitor`s ball lies in a water hazard. In making his backswing for the stroke, the competitor is aware that his club touched a branch in the hazard. Not realising at the time that the branch was detached, the competitor did not include the two-stroke penalty for a breach of Rule 13-4 in his score for the hole. As the competitor could have reasonably determined the status of the branch prior to signing and returning his score card, the competitor should be disqualified under Rule 6-6d for failing to include the two-stroke penalty under Rule 13-4. (Revised)


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